4 de setembro de 2008

A Linguagem Humana e a Bíblia

Quando era apenas uma ingênua criança, minha irmã me contava histórias. E como eram lindas aquelas histórias! Eram histórias de crianças que viviam em reinos bem distantes, que perdiam-se e precisavam encontrar o caminho de casa; algumas falavam de meninos que tinham asas sabiam voar. Ao ouvi-las, eu me transportava para aquele mundo, me imaginando estar vivendo cada acontecer daquelas fábulas. Assim, minha infância foi povoada pelo mundo da imaginação de minha irmã.

As palavras tem o misterioso poder de chamar de uma realidade não presente não apenas fatos, mas sentimentos e sonhos. A linguagem é a mais pura forma de comunhão entre os seres humanos, pois no ato de dizer, comunico (comunicação é a ação de “por em comum”) algo, e ao comunicar algo a alguém, partilho uma experiência vivida, pensada ou desejada.

Se não fosse a graça divina de proporcionar ao ser humano a possibilidade de comunicar, de traduzir um estado de coisas vividas em linguagem, em uma língua compreensível entre uma comunidade cultural, não haveria civilização, não haveria religião, não haveria sequer nosso cristianismo. São João diz: “o que vimos e ouvimos, nós vos anunciamos, para que vós também tenhais comunhão conosco. Ora, a nossa comunhão é com o Pai e com o seu Filho Jesus Cristo” (1 Jo 1,3). Graças à linguagem, podemos saber o que pensavam as pessoas, as culturas de séculos e até milênios passados. Experiências, vivências, aprendizados que hoje nós podemos saber por que entramos em contato com símbolos lingüísticos que evocam um “dito” que não se perdeu no ato de seu “dizer”. A isso chamamos Tradição. A Bíblia só foi possível pelo importante papel da Tradição oral e escrita.

A Bíblia é um livro inspirado por Deus, mas que traduz experiências, vivências, aprendizados de um povo que soube auscultar a presença de Deus na história, na sua história. E a linguagem, esta discreta morada de nós mesmos, na sua humildade, possibilita a nós conhecer, pela Bíblia, a vontade de Deus, assim como nos auto-revela tudo o que somos.
Eliseu de Oliveira, acadêmico do 6º semestre de fiolosofia da PUCRS

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