25 de junho de 2007

POR QUE DOIS GÊNEROS?


Heráclito de Éfeso (540-470 a.C.) intuiu que há sempre dois princípios opostos e necessários um ao outro, sendo que, se um existe, o outro também deve existir. Estes contrários formam um todo: portanto, são um. Falaremos, neste texto, de dois princípios distintos, necessários e complementares: o homem e a mulher.
Poderia muito bem existir somente o gênero feminino, ou somente o gênero masculino, com reprodução assexuada. Mas o fato é que há dois gêneros, e este é um problema tão grande quanto a pergunta: “por que existe algo e não antes o nada?”. Testemunhamos, contudo, a existência desse algo (o ser), e agora nos perguntamos: "e por que dois gêneros?"
Vem se configurando uma mudança de paradigma nos conceitos e nos fundamentos. No conceito moderno, a pessoa é parte de um todo (de um sistema, de uma ideologia, de uma instituição). No conceito pós-moderno, a pessoa é um todo, um todo que é egolatra, egocêntrico e narcisista. Isto influenciou incomensuravelmente a maior parte da geração jovem, que dá mais valor à emoção à racionalidade, o prazer pessoal ao compromisso coletivo, ao momento à um processo de crescimento.
Este pensamento subjetivista transferiu-se para a afetividade e a sexualidade. O namoro e o casamento significa comprometimento com o que o outro é, pensar em algo mais do que o momento, pensar na possibilidade de dividir o ônus de uma existência. Todavia, percebemos que o momento atual não propicia nem o namoro, nem o casamento.
O relativismo moral e ético pregado pela pós-modernidade (onde não existe verdade, existe pontos de vista) é a morte da afetividade e a glória do instinto. Quando não há nada que balize as atitudes, quando é o ter, o prazer e o poder que valem mais do que o ser humano em sua integridade, caímos na amoralidade, na indefinição ética, onde o ser humano, de fim em si mesmo, passa a ser meio (para o "meu lucro", para o "meu prestígio", para o "meu prazer"). Parece que, neste atual estágio da história, Nietzsche (1844-1900) vence com o sentimento de poder do homem que não encontra limites. É a glória do individualismo. O triunfo do darwinismo social pregado pelo neoliberalismo.
A natureza humana é um misto de abertura e de fechamento, de saída e de retorno, da vontade da mudança e da necessidade de fixar-se em algo seguro. Por isso, não é próprio da natureza se perder no todo, nem se fechar em si mesma, mas é no movimento de sair de si e de retorno a si é que acontece o processo de amadurecimento e o caminho em busca do ser mais. Se houvesse um único gênero, certamente seríamos condenados ao individualismo, ao isolamento, a prisão em si mesmo. Contudo, existe o outro, que é necessário e nos abre para a possibilidade da afetividade.
A afetividade não é fruto do domínio do outro, de sua subjugação e submissão. Pelo contrário, é no serviço ao outro que o amor é provado. Os gêneros, unidos pelo amor, não existem para estar em guerra, nem mesmo na atitude de opressão (onde vale é a vontade de um, o prazer de um), mas é na aproximação de duas liberdades e de duas subjetividades que se encontram no respeito e na tarefa de juntos, caminharem em busca da felicidade de ambos.

Eliseu Oliveira, 3º Sem.

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